30/06/2011

Dia 3: Primeira Cruz - Travosa

                                                                                                                                                                   
(Na toyota entre Primeira Cruz e Travosa)

Continuando o post anterior, esperávamos no coreto as toyotas chegarem, cada uma com seu destino. Nossa ideia inicial era ir para Santo Amaro, mas nos informaram ser mais interessante ir para Travosa, de onde pedalaríamos a beira mar, contornando o parque do lençóis maranhenses, até atins (ou não).
A viagem até Travosa durou cerca de 2 horas, atrasou um pouco em função de termos batido de frente com outra caminhonete no caminho (não se preocupe, yellow submarine e silver hammer não sofreram nenhuma contusão).
Chegamos meio dia em travosa, um vilarejo bem pequeno e de areia muito fofa. Empurramos as bicicletas a procura de um mercado e um lugar para almoçar. Tinha exatamente um mercado e um local para almoçar, no primeiro compramos alguns alimentos já que iríamos acampar entre Travosa e Atins, no segundo conseguimos um almoço honesto e nos fartamos pois o dia seria duro. No caminho para o "restaurante" aconteceu um fato muito curioso (leia-se uma casinha na qual a simpática moça estava disposta a negociar uma refeição por uma quantia modesta, ofereci 10 pra nós dois e ela respondeu: "pode ser 12 por causa da coca?", claro que aceitei, me dando conta de minha recém-adquirida pão durisse). Enquanto empurrávamos as bicicletas veio um menino curioso a olhar e começou a nos seguir. Conheci pela primeira vez um fenômeno chamado "progressão geométrica de crianças". O menino curioso virou dois, assim como os dois rapidamente se desdobraram em 4. Só sei que meninos caíam das árvores como frutas maduras e brotavam da areia tal qual carangueijos, e, num piscar de olhos, se acumularam duas dúzias de meninos, que nos seguiram até o restaurante.
Após o almoço, e sem tempo para fazer o "quilo", rumamos em direção à praia! Um dos meninos que nos acompanhara nos levou parte do caminho entre o vilarejo e o mar, quando chegamos na primeira duna ele disse: "agora é só ir atravessando as dunas até chegar no mar". Foi uma árdua caminhada empurrando as bicicletas através de intermináveis dunas de areia muito mole que não permitiam pedalar. Creio que atravessamos entre 10 e 15 dunas, e chegamos a beira mar por volta das 3 horas. Estávamos bem cansados então pedalamos só um pouco pra curtir um pouquinho a paisagem maravilhosa!!! Pedalamos apenas 4 km e decidimos parar em uma das várias cabanas de pescadores que existiam na praia, todas inóspitas:

 
(Hotel a beira mar, 5 estrelas) 

Em função da falta de suprimentos que encontramos no mercado, iniciamos nossa jornada com água e comida limitadas, mas com a certeza de que água não seria o problema. Acontece que entre o mar e as dunas formam-se pequenos lagos de água da chuva, que fervemos assim que chegamos no nosso hotel para beber no dia seguinte. Quanto a comida tínhamos, além de 2 pacotes de macarrão e 1 extrato de tomate, 1 pacote de maltodextrina (carboidrato para reposição energética), além da minha promessa que iria caçar algum animal tipo um carangueijo baseado nos conhecimentos que adquiri assistindo "A prova de tudo", no Discovery Channel. Claro que os bichinhos me fugiram. 
Bem, após fervermos água para o dia seguinte, cozinhamos macarrão e jogamos extrato de tomate por cima, sinceramente duvido que qualquer restaurante italiano possa me servir uma melhor macarronada que a que comemos. É claro que todo o esforço do dia, e a paisagem exuberante, temperavam nosso prato.

 
                                                                   
     (Redes king-size armadas. Tinha até uma piscina artificial dentro de nosso quarto)

Na foto da pra ver as duas bicicletas. Em primeiro plano está a minha. Vou detalhar o que estou carregando: 
O único alforge que usei na viagem foi o Alforge Impermeável de 32 litros da empresa nacional Arara Una. O produto, e também a empresa, merecem todos meus elogios. Com apenas este produto, que sai a um preço modesto, fui capaz de transportar tudo que precisei durante a viagem. E quando peguei uma chuva torrencial na cabeça, a promessa da Impermeabilidade se cumpriu, tendo em vista que tinha aparelhos eletrônicos como mp3 e gps que saíram ilesos, de fato não entrou uma gota no alforge.
Além dos dois alforges (cada uma de 16 litros), pendurados um de cada lado da bicicleta, estava carregando uma barraca, que se encontra entre os dois, minha mala bike que está embaixo da barraca e não pode ser vista na foto, e um Ukulele em cima da barraca (pequeno instrumento havaiano a la cavaquinho). Como havíamos parados estão pendurados meu capacete e meu par de tênis na foto, mas durante o pedal isso é tudo que vinha sendo carregado no lombo da magrela.

Ao escurecer deitamos nas redes e tocamos algumas canções dos Beatles, eu no ukulele e o felipão na flauta doce, que, nos lençóis maranheses, e à luz do luar, garanto soa mais doce. Se fosse possível, teríamos dormido escutando a nossa própria música, mas não posso reclamar, pois o silêncio dos lençóis soam como uma orquestra.


26/06/2011

Dia 2: São José do Ribamar - Primeira Cruz



No dia seguinte pegamos um barco em direção à cidade de Primeira Cruz, que se encontra próxima aos lençois maranhenses.
Nos informaram que a viagem levaria no máximo 5 horas, mas foi uma viagem de 12 horas.
Eu tinha 3 bananas, o felipe tinha 4 laranjas... Mais tarde aprenderíamos que, no Nordeste, deve-se sempre multiplicar o tempo e a distância por 3 se quiser saber qual o verdadeiro tamanho do trajeto... Chegamos às 4 da manhã em Primeira Cruz e esperamos o sol e a padaria abrirem...

(O "sol" na foto é uma falha da foto... nós, e as muriçocas, ainda aguardávamos sua ilustre presença)


De qualquer forma foi uma viagem tranquila. Havíamos almoçado bem antes de partir, e, como dormimos boa parte da viagem, os mantimentos que levamos foram suficientes.
Chegando em Primeira Cruz, nos informaram que podíamos pegar uma caminhonete (ou Toyota no jargão local) por volta de meio dia na qual seguiríamos para travosa, de onde nosso pedal nas dunas teria início.
Fez-se a luz, o pão e a caminhonete, e, com todos os contratos do dia firmados pudemos seguir viagem,
mas deixa esse assunto pro próximo post que já estou invadindo o terceiro dia da viagem.

(De frente pra igreja, no coreto da praça, tocávamos violão a esperar a garoa passar (e a toyota chegar), clássico não?)

24/06/2011

Dia 1: São Luís - São José do Ribamar

 
Acordamos, montamos nossos alforges nas bicicletas pela primeira vez e pé na estrada!
No nosso primeiro dia de pedal viajamos de São Luís do Maranhão até São José do Ribamar.
Não acordamos tão cedo, pois teríamos apenas 35 km pela frente, todavia acabamos por demorar acima do esperado já que a corrente da minha bicicleta arrebentou duas vezes no caminho, acho que ficamos mais tempo arrumando a corrente do que pedalando... De qualquer forma foi um pedal tranquilo, chegamos na cidade por volta de 14 horas e almoçamos. Durante o almoço perguntei a duas moças sentadas na mesa ao lado se sabiam de alguma pousada na cidade. Responderam que não conheciam, que achavam pouco provável haver algum, mas que poderíamos dormir na casa delas. Claro que aceitamos!
Além da generosa oferta de um lugarzinho para esticar a rede e passar a noite, nos informaram sobre a origem do nome da cidade. Certa vez os habitantes da cidade encontraram uma imagem do santo São José boiando no mar, o santo virou o padroeiro da cidade e a "oferenda dos mares" deu nome à cidade, pelo fato de estar sobre o mar ou "em RIBA" do MAR, o nome da cidade acabou por virar São José do Ribamar.
Por fim, a Safira, nossa anfitriã, ainda leu minha mão e passou um prognóstico muito positivo sobre nossa viagem, afirmou com convicção:
"tudo é reto, tudo é plano. Este é o seu ano. Tudo vai dar certo na viagem de vocês porque nada acontece com quem vai de coração aberto!"
Embora eu seja um tanto quanto cético em relação a futurologia, bolas de cristal e similares, as palavras que ela disse foram uma injeção de ânimo e confiança em relação a viagem apenas iniciada.
A programação para o dia seguinte era pegar um barco e sair da ilha rumo ao continente, estavamos ansiosos por colocar nossas bicilicletas nas praias dos lençois maranheses e pedalar sem restrição...
Finalmente começa a viagem que, em minha mente, já se iniciara alguns meses antes...



  (Estátua dedicada a São José)

21/06/2011

Diários de uma Bicicleta - Aquecimento

    
 (na foto: Yellow Submarine e Silver Hammer, as magrelas em São Luís, ainda sem os alforges)

Fiz uma viagem de bicicleta pelo nordeste com um amigo em janeiro de 2011. 
Colocarei algumas fotos da viagem junto com um pequeno diário que fiz durante a viagem, não haverá muitos detalhes mas será possível ter uma ideia do percurso que realizamos e da fascinante experiência que é realizar uma viagem deste tipo.
Certamente foi a coisa mais excêntrica que já realizei e tenho certeza que foi apenas a primeira de muitas.

A viagem teve a duração de um mês e pedalamos entre São Luis do Maranhã e Fortaleza. 
No trajeto pegamos barcos, ônibus e caminhonetes, de forma que pedalamos pouco mais de 300 km do trajeto e no restante pegamos carona nos veículos motorizados supracitados. 

Após voar de Belo Horizonte para São Luís do Maranhão, realizamos a primeira etapa da viagem, foram 5 dias de preparativos finais, tínhamos que resolver algumas pendências em relação às bicicletas, incluindo comprar algumas peças e acessórios, montar a bicicleta e os alforges (mochilas que ficam na bicicleta) etc, além disso havia o natural interesse em conhecer a cidade, famosa por ser a "capital brasileira do reggae", posso dizer que não ficamos nem um pouco decepcionados.
Pedalamos cerca de 50km dentro da cidade nesses dias, conhecendo suas praias e sua gente, sem falar no seu charmoso centro histórico que pode ser visto na foto abaixo.
Assim que ficou tudo acertado, subimos na magrela e pé na estrada! 
Como São Luís situa-se no centro de uma ilha, a idea era pedalar até uma cidade portuária da ilha, no caso São José do Ribamar, e dali tomar um barco para o continente, de onde poderíamos pedalar através das praias dos lençois maranhenses rumo à fortaleza, mas isso são cenas de outros capítulos...



                                           (Centro histórico de São Luís do Maranhão)

02/06/2011

Fortaleza

Mãe, a mais bela expressão da palavra.
A gota de orvalho que purifica a última flor do lácio.
Minha vida, minha mãe.
É minha fortaleza quando sou um grão de areia,
É tudo que preciso, pois só ela me completa.
É todas as respostas quando não faltam perguntas.
É todas as ciências em um mundo infinito.

E se um dia perguntar-me onde mora o coração,
Na esquina da saudade te respondo com razão:
Ele mora lá em casa,
Ele nunca fala não.
E o nome dele é Angela,
minha mãe,
minha oração.

Hóspedes